Setembro Verde: com doação de órgãos, famílias transformam despedidas em recomeços
Comunicação empática é fundamental no processo de doação de órgãos (Foto: Joelton Barboza)
Para quem aguarda na fila de transplante, a doação de órgãos muitas vezes é a única possibilidade de continuar vivendo. Durante este mês, a campanha Setembro Verde reforça a importância da doação de órgãos e tecidos, um gesto de solidariedade que pode transformar despedidas em recomeços.
Foi exatamente esse gesto que marcou a vida da técnica de enfermagem Rafaella Ferreira, que trabalha no Hospital Regional do Cariri (HRC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em Juazeiro do Norte. Em 2016, diante da perda do pai, ela e a família autorizaram a doação de órgãos no próprio HRC, que é uma das unidades da Rede Sesa que realiza captação no interior do Estado.

“A empatia sempre fala mais alto ao meu coração”, diz Rafaella, que trabalha na Central de Material Esterilizado (CME) do HRC e autorizou a doação de órgãos do pai na própria unidade (Foto: Naiara Carneiro)
“Embora tivesse esperanças que ele voltasse para casa, infelizmente não foi possível. Por trabalhar na instituição e saber que é referência em captação de órgãos, procurei informações sobre a doação. Sempre fui a favor desse gesto tão lindo, no qual, por meio da morte de um ente querido, é possível trazer vida e saúde para as pessoas que estão fragilmente precisando”, relembra Rafaella.
Na ocasião, foram doados os rins, córneas e fígado. A decisão contou com o aval do avô de Rafaella, que, de acordo com ela, chegou a se emocionar por saber que o filho, de alguma forma, continuaria vivo ao beneficiar a vida de outras pessoas.
“Em meio a um misto de sentimentos e fragilidades, a empatia sempre fala mais alto ao meu coração. Infelizmente já não havia mais o que ser feito. Por que não dar esperança e sentido à vida das pessoas e familiares que estavam precisando? Desta forma também estava trazendo um pouco de felicidade para mim”, relata.
A enfermeira da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do HRC, Bruna Bandeira, destaca a importância de conversar sobre o tema com a família. “No Brasil, a legislação diz que a doação é consentida, ou seja, precisa ser autorizada pelo responsável legal. Nesse sentido, é importante falar sobre a possibilidade da doação e manifestar o nosso desejo aos nossos familiares, pois isso facilita a decisão de quem está aqui para decidir”, destaca.
No HRVJ, famílias também dizem “sim” à doação
Tomar a decisão de doar os órgãos de um ente querido pode não ser tarefa fácil e precisa envolver, quase sempre, uma conversa franca com toda a família. A agricultora Eliete Leitão, 57, em meio à dor de perder um irmão, ficou com a missão de reunir os familiares e conversar com os filhos dele. Após o diálogo, os sobrinhos decidiram pela doação dos órgãos.
A decisão de Eliete (foto) ocorreu após ela ser informada pela Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Hospital Regional Vale do Jaguaribe (HRVJ), em Limoeiro do Norte, da morte encefálica do irmão e de ter conhecimento da possibilidade da doação. “Como a gente sabia que o meu irmão era uma pessoa maravilhosa e que gostava de ajudar o próximo, eu falei com os filhos e convenci os quatro a doar os órgãos e salvar alguém. Eu fiquei muito feliz em saber que os rins e o fígado dele ajudaram três pessoas a ficarem bem”, relata.
“No dia do velório, meus sobrinhos falaram para mim: tia, hoje estamos chorando, mas neste mesmo momento tem três famílias sorrindo”, conta Eliete.

A captação ocorreu em julho de 2025, a primeira do ano no HRVJ, local onde o doador estava internado após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A atitude de Leitão e dos sobrinhos se caracteriza como uma grande ação de solidariedade, empatia e amor ao próximo. Os órgãos foram conduzidos via helicóptero da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) para transplantes em duas cidades distintas no Brasil.
“Não foi uma decisão difícil, porque aliei a razão e o coração. Pensei o quanto a minha decisão iria salvar outras vidas. Eu e meus sobrinhos ficamos muito felizes por termos chegado a essa decisão, pois é muito gratificante saber que estamos dando de volta a esperança a alguém que tanto precisa. Eu me senti realizada por saber que minha atitude ajudou outras pessoas a terem uma segunda chance de vida e saber que tem um pouco dele vivo em alguém. Agradeço a Deus por ter me ajudado a tomar a decisão certa”, explica.
Hospitais Regionais fortalecem a rede de transplantes

Hospitais da Rede Sesa no interior cearense são fundamentais no processo de continuidade da vida possibilitado pela doação de órgãos
Na Rede Sesa, os hospitais regionais desempenham um papel importante para o andamento da fila de transplantes, pois possibilitam a ampliação da captação de órgãos no interior do Estado. As equipes dessas unidades atuam desde a identificação dos potenciais doadores, acolhendo e conscientizando as famílias sobre a autorização da doação, até a logística de transporte para que os órgãos cheguem em tempo hábil aos receptores. “A essencialidade deste serviço é dar continuidade à vida”, conclui a enfermeira Bruna.
Setembro verde
Durante o mês de setembro, a Sesa irá divulgar uma série de reportagens que abordam a doação de órgãos, reforçando a importância do ato e, também, o esforço conjunto entre profissionais da saúde e familiares para que vidas sejam transformadas.
A série tem alusão à campanha Setembro Verde, que aborda a conscientização para a doação de órgãos e tecidos.
Nas reportagens, também será trazida a relevância do diálogo como caminho facilitador para a tomada de decisão por parte de familiares no momento do luto.