“Padrão ouro”: leite materno ajuda a salvar vidas de bebês internados no HGWA
A pequena Maria Vitória, de pouco mais de um mês, foi bastante personalizada pela família. Mas o bebê acabou nascendo antes da hora, com 27 semanas e seis dias. Após o parto, ela foi fornecida pela maternidade para o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e está internada na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) desde dia 29 de junho. A mãe, a agricultora Maria Jaisa Araújo, de 24 anos, ainda não consegue amamentar a filha, mas entende a importância do leite materno para a saúde da menina.
“Estou todos os dias aqui, não consegui ir para casa sem ela. A amamentação tem sido uma fase boa, quero que ela saia, que consiga fazer a pega. Normalmente eu tiro o leite na sala de ordem, ela usa o necessário e também acaba fazendo para outros bebês internados. O leite é como se fosse um remédio, é uma vida”, afirma.

Jaisa foi uma das mães participantes da atividade de conscientização realizada no HGWA por ocasião do Agosto Dourado, mês em que se busca divulgar informações que destacam a importância da amamentação. “Gostei muito da programação, ajudei principalmente as mulheres que não têm tanto leite. Finja amamentar ela até quando ela quiser”, diz Jaisa.
O Centro de Terapia Intensiva Pediátrica (Cetip) do HGWA tem capacidade para 24 bebês na Utin, além de ser um posto de coleta de leite materno. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por ano, cerca de 6 milhões de vidas são salvas com o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida dos bebês.
A coordenadora de enfermagem da Cetip, Yohanna Monteiro, destaca a importância de realizar uma programação durante o mês comemorativo: “esse ano a campanha vem muito voltada também para o debate em torno da redução das desigualdades sociais. Vários estudos comprovaram que quanto menor a renda familiar, menor o tempo que essa mãe mantém o filho no aleitamento. Muitas vezes essas mulheres não têm apoio no ambiente familiar e isso dificulta a adesão”, pontua.
Yohanna ressalta que a amamentação aumenta o vínculo entre mãe e bebê. “A falta de conhecimento atrapalha muito o processo da amamentação, muitos não sabem os benefícios que essa prática traz para mãe e filho. Na programação, ganhou toda a questão educacional, a segurança social, que as mães têm, principalmente as mães dos bebês prematuros, os auxílios que essas mães possuem, mostrando as possibilidades desse amparo. São orientações de questões emocionais, sociais, de saúde, que são feitas durante todo o ano e ressaltadas durante o mês de agosto para toda a população do hospital”, diz.

A terapia ocupacional, além de ter feito parte da programação, é um serviço diário oferecido às mães e aos bebês internados no HGWA. Viviane Coutinho, terapeuta ocupacional, conta que neste mês foi feita uma oficina onde as mães falavam uma palavra que representava a amamentação para elas.
“Surgiram várias palavras lindas como gratidão, amor, carinho, amor, vida, cuidado, proteção, entre outras. Observamos de cada uma como essa palavra é ampla e importante”. Ela complementa: o trabalho ocupacional de atividades diárias também ajuda a mostrar a importância da amamentação. “Focamos desde o posicionamento do leito, do banho, estimulando sensorialmente, no acalento e na conexão entre mãe e bebê. Uma técnica também é utilizar a música e a massagem relaxante, para que as mães consigam relaxar um pouco do cotidiano e facilitar o fluxo do leite materno“.
A nutricionista Fernanda Fernandes, que acompanha os bebês internados na unidade, lembra que o leite materno é considerado o alimento mais completo para os primeiros meses de vida de um bebê. Ele oferece todas as proteínas (inclusive as de ação imunológica), vitaminas, minerais, gorduras, água, enzimas e muitos outros nutrientes necessários para o desenvolvimento dos bebês. Para os prematuros, de maior perfil de internação no HGWA, a nutrição é de grande importância para o desenvolvimento adequado, principalmente do desenvolvimento do trato gastrointestinal e do sistema nervoso.

“Dentro desse quadro de desenvolvimento de um bebê prematuro, o leite materno vem não apenas oferecer todos os nutrientes necessários para o ganho de peso, mas também oferecer os nutrientes fundamentais e necessários para o desenvolvimento adequado do sistema nervoso central e na maturação do trato gastrointestinal , melhorando a formação da imunidade do recém-nascido, evitando a ocorrência de enterocolites, previnindo possíveis alergias alimentares, além de outros benefícios que são universais do leite materno”, informa.
“Padrão ouro”
O leite materno é chamado de alimento “padrão ouro” devido a esses benefícios que proporciona. A nutricionista ainda diz que o alimento oferece quantidades adequadas de proteínas, gorduras e micronutrientes (vitaminas e minerais) para o desenvolvimento saudável do bebê.
“Além disso, existem compostos no leite materno que facilitam a digestão, como é o caso das enzimas, compostos que ajudam na formação da imunidade como as imunoglobulinas presentes no leite materno, contém os oligossacarídeos que irão agir como prebióticos que interagem com a microbiota intestinal e aumenta o crescimento de bactérias benéficas para o intestino do bebê, aumentando o risco de enterocolites, alergias alimentares e doenças autoimunes, além de ter papel fundamental no desenvolvimento cerebral”, afirma a nutricionista.

Apoio para as mães
Algumas dificuldades fazem com que as mães não consigam amamentar. Para quem está passando por esse momento, mas que tem o desejo de amamentar, o ideal é procurar apoio e orientação profissional. Para as mães com seus bebês ainda hospitalizados, a orientação e o apoio vem das equipes multidisciplinares, que oferecem não apenas as informações técnicas, mas também apoio emocional.
“Muitas mamães não amamentam devido ao estresse mesmo. É um contexto muito complexo e difícil para essas mulheres, estar com seu bebê internado em uma UTI, por exemplo. Então as equipes fazem esse papel de cuidar, informar, orientar essas mamães, de forma que ela consiga melhorar sua produção de leite e amamentar ao seu bebê ou tirar o leite materno para o seu bebê”, explica Fernanda.
A equipe multidisciplinar do HGWA conta com médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional, nutricionista e psicóloga.
O HGWA recebe mães e bebês para ajudar nesse momento tão desafiador. A mãe pode procurar o hospital, localizado na Rua Pergentino Maia, 1559, e na recepção, informar que veio para atendimento no Posto de Coleta de Leite Humano e/ou Sala de Ordenha. O atendimento acontece de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h. Caso não tenha possibilidade de deslocamento, eles podem ligar para o número (85) 3116.8325 e tirar suas dúvidas com as técnicas de enfermagem.