Cuidados Paliativos: especialidade avança em hospitais do Ceará
A Casa de Cuidados do Ceará (CCC) é uma das instituições que investem em cuidados paliativos na Rede Sesa. Inaugurada em 2021, é uma Unidade de Transição de Cuidados com foco na Reabilitação e Cuidados Paliativos. Os pacientes são encaminhados dos hospitais ou UPAs quando eles não necessitam mais da assistência hospitalar, mas de uma assistência com cuidados complexos da equipe multidisciplinar, visando a recuperação ou controle de sintomas. Muitas vezes esses pacientes se encontram com doenças avançadas e no fim da vida.
O objetivo da CCC é alcançar uma melhoria e estabilidade do quadro clínico dos pacientes com treinamento dos cuidadores familiares para transição segura para o domicílio, mas muitas vezes os pacientes necessitam do apoio da equipe com cuidados especializados até a morte. Toda a equipe da CCC é treinada para dar apoio ao paciente e aos familiares com a visão humanizada.
A Casa de Cuidados é atualmente a única instituição pública no Ceará que oferece essa modalidade dos Cuidados Paliativos com acolhimento multidisciplinar, conhecido como “Hospice Care”. Os pacientes possuem assistência de profissionais das áreas de Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Assistência Social, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia, além de visitas médicas, com a adoção de todos os cuidados necessários na transição entre a estrutura hospitalar e o domicílio do paciente.
De acordo com a diretora da CCC, Ursula Wille Campos, os cuidados paliativos aliviam o sofrimento dos pacientes, permitindo maior apoio de familiares e promovendo mais qualidade de vida.
“Os cuidados paliativos permitem o acolhimento da família e promovem um atendimento humanizado. O paciente lotado na CCC recebe apoio de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos, cada um atuando na sua área com o mesmo objetivo: promover um atendimento de qualidade”, esclarece Wille.
Helv
Zenaide de Sousa de Oliveira, 44, prepara-se para enfrentar a futura ausência do tio de 91 anos. Sem condições de passar por intervenções cirúrgicas e sem responder às terapias capazes de melhorar ou controlar a doença, o idoso estava sendo assistido pela equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), unidade da Rede Sesa, em Fortaleza.
O serviço de cuidados paliativos foi implantado há dois meses no hospital. A partir de interconsultas, os pacientes são avaliados e recebem o parecer para serem acompanhados pela equipe paliativa. O médico Bruno Lobo explica que a abordagem paliativa está alinhada à terapia modificadora de doença.

“Chega o momento em que realmente percebemos que as terapias modificadoras não têm um papel tão importante. Naquele momento, são os cuidados paliativos que acabam sendo a forma dominante de cuidar daquele paciente. Um cuidado que é estendido também para as famílias”, explica
Zenaide afirma que a equipe foi bem realista. “Eles passaram para a família que era necessário dar o melhor conforto para o paciente. Meu tio foi bem assistido. Eu passei mais dias com ele, eu só tenho a dizer que a equipe e o hospital estão de parabéns”, afirma a acompanhante hospitalar.
Inicialmente a equipe é composta por dois médicos e uma enfermeira, possuindo o suporte multidisciplinar das áreas da Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e do Serviço Social.
“Entendemos que é uma área de atuação médica, mas também multiprofissional, envolvendo todos os cuidados com aqueles pacientes que têm o diagnóstico de uma doença potencialmente ameaçadora. Tentamos amenizar os sintomas físicos, mas também emocionais, psicológicos, espirituais e sociais desses pacientes”, pontua o médico Bruno Lobo.
A diretora de gestão do cuidado, Kessy Aquino, avalia que, apesar do pouco tempo, a equipe de cuidados paliativos já vem colhendo bons resultados, sendo evidenciado através de avaliações das equipes e dos familiares.
“É um cuidado personalizado, um cuidado que busca aliviar e personalizar as necessidades do paciente e dos familiares naquele momento. Eles realizam um processo de melhoria contínua, um processo de educação, dando todo suporte de conhecimento e entendimento a equipe que está lidando com aquela situação, com aquele momento do paciente”, explica.
Desafios
A equipe de cuidados paliativos tem o desafio de levar cada vez mais a abordagem paliativa para outros profissionais da saúde. A médica Ingrid Barros explica que a adoção dos cuidados paliativos passa por uma mudança no pensamento, construído em décadas, de que o cuidado em saúde está centrado na doença.
“A medicina, como foi construída no passado, foi muito focada no tratamento de doenças, no pensamento de que eu preciso cuidar e se aquele paciente morrer, eu como profissional fui derrotado e fracassei. Muitas vezes, quando a gente fala em abordagem paliativa, existe o pensamento que você está desistindo dessa pessoa. Mas o cuidado paliativo é exatamente o contrário de desistir, a gente assume a responsabilidade de cuidar daquela pessoa até o fim”, explica a médica.