HRSC usa placenta em pintura para produzir carimbo afetivo e eternizar momento do parto
Joyce Emanuele Xavier dos Santos completou 22 anos um dia após dar à luz a João Pedro, no Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim. Além da graça pela vida do primeiro filho, a jovem de Limoeiro do Norte ganhou um símbolo emocionante da sua gestação: o carimbo feito com a própria placenta. “É como uma árvore da vida, é uma experiência gratificante”, diz.
A tinta que molha a placenta para carimbar o papel, ressignifica o parto em uma sublimação poética, e o transforma em arte que expressa o nascimento da vida. Essa foi a forma encontrada pela equipe de obstetrícia do HRSC, unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) gerida pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), para tornar a gestação um momento ainda mais representativo.

"É um jeito muito bonito que o hospital encontrou para que esse nosso momento ficasse ainda mais especial, e para guardar essa lembrança com a gente”, diz Joyce Emanuele. A mãe de Joyce, Virgínia Maria Xavier, 60, não conteve a emoção. “Achei muito lindo eles terem feito isso, para quem é mãe não é só uma pintura, significa muito”.
Sentimento e simbolismo
Iniciada em janeiro deste ano no HRSC, a ação já proporcionou mais de 40 pinturas. As originais são arquivadas no prontuário como documento particular da mãe, que elas recebem e levam para casa no momento da alta. As cópias foram reunidas e apresentadas em uma exposição, montada pelas próprias mães no HRSC.
Edith Mara, enfermeira responsável pelo serviço de Obstetrícia, explica o sentido por trás da ação. "A placenta é como um símbolo poderoso da maternidade. Depois do nascimento, além do próprio bebê, ela é a única marca física que resta daquele momento. Enquanto a criança vai crescer e mudar com o tempo, a pintura da placenta permanece e eterniza o instante do parto.”

Em vez de descartado como resíduo hospitalar, no HRSC o órgão está se convertendo em memória afetiva e se transformando em quadros que evocam o nascimento, a maternidade e o poder do corpo feminino, uma prática que, embora recente, já envolve toda a equipe. “É algo tão bonito e envolvente que até as médicas estão trazendo tinta e papel de casa. Tem dias que 5h da manhã, as mães estão pintando”, conta Edith.
Eucilene Kássya, médica pediátrica e diretora da gestão do cuidado do HRSC, explica o cuidado com as mulheres no momento do parto na unidade, vai além da assistência técnica e segura. "Essa iniciativa traduz o protagonismo da mulher, sensibilidade no ato de cuidar, valores que nos são caros. A arte com a placenta é uma forma de dizer às nossas mães: sua história importa. Seu corpo é digno de reverência, e sua jornada merece ser lembrada”.